terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Igreja Paroquial de Igrejinha ou Igreja de Nossa Senhora da Consolação

igreja 1910 topo

A ‘Festa Rija’ desenvolve-se desde o seu início em volta da Igreja de Nossa Senhora da Consolação, uma vez que são dedicadas a comemorar esta Virgem. Mas qual é a história por trás desta Igrejinha, que deu nome à nossa Freguesia. Aqui fica tudo o que precisa saber sobre a nossa igreja, acompanhada de fotografias, uma delas de 1910, rara fotografia que ainda mostra os originais campanário e o cruzeiro.

Estávamos no ano de 1528, quando o templo de devoção a Maria Consoladora foi terminado, obra feita por ordem de Luís Mendes de Oliveira e sua esposa Isabel Jorge, fundadores da Igrejinha. Desconhecem-se as razões pelas quais foi consagrado a Nossa Senhora da Consolação, ou Maria Consoladora, mas é certo que é uma das Igrejas Portuguesas dedicadas a esta devoção mariana mais antigas de todo o território nacional.

A administração do templo manteve-se privada na mão de fidalgos nobres ao longo dos séculos, passando pela família Morgado de Brito e terminando, em meados do Século XIX com Francisco de Brito Casto e Solis, altura em que passou para as mãos da Diocese, como muitas outras igrejas.

A fachada axial da Igreja de Nossa Senhora da Consolação encontra-se virada a sudeste, estando o antigo passal com ossário, o anteriormente chamado pelos populares de cardal, no espaço posterior. A fachada lateral ocidental é a única que se encontra totalmente desimpedida, sendo também a mais pitoresca, conservando os contrafortes de alvenaria rematados com pináculos em forma de urnas. A fachada lateral oposta encontra-se tapada com habitações, onde viviam os párocos.

Uma das curiosidades desta igreja é que inclui uma curiosa Via Sacra exterior, de azulejaria colorida, com atributos do Calvário, datada do Século XVII, altura em que também foi alterada a sacristia, com portada metida em arco falso composto na cimalha por tabela engrinaldada, esculpida, de arte recaille, que inicialmente terá sido uma janela, facto que se pôde comprovar até meados do Século passado através das fendas deixadas pelas desaparecidas grades das ombreiras.

A frontaria tem um alpendre de arco redondo, de pedra, coro com frontão triangular ladeado de fogaréus cilíndricos e campanário central arredondado construído em 1941, muito diferente do original destruído durante as fortes intempéries ocorridas em Fevereiro desse mesmo ano, de linhas retas, rematadas no topo com duas urnas laterais e pináculo centro.

igreja 1910Fotografia de 1910, em que se pode ver o campanário original

Toda a obra é de linha setecentista da época Joanina e de estilo corrente no Alentejo durante os reinados de D. João V e D. José, de que é prova principal o portal de granito e do tipo de verga abatida, emoldurado e de ângulos saídos, de corda.

No adro da Igreja, frente ao arco central encontra-se o cruzeiro de mármore branco, com as clássicas inicial do Século XVII, firme em quatro degraus de granito. Infelizmente este cruzeiro também já não é o original, uma vez que esse caiu em 2009, tendo sido feito um novo com as mesmas características.

igreja 2010
Fotografia de 2010, em que se pode ver o campanário do Século XX e o novo cruzeiro, colocado nesse mesmo ano

O interior tem planta retangular com nave coberta por abóbada de meio canhão cornada de caixões encerrando tabelas em forma de espelhos cilíndricos ou ovoidos, envolvidos de variada composição floral estrelizada, cantonada de vieiras. Pinturas a fresco, de estilo Barroco de artistas desconhecidos, está integrada, pela concepção e risco, na época final do reinado de D. Pedro II.

Os alçados estão forrados até à sanca de azulejos policromáticos tipo tapete, com dois estilos diferentes: maçaroca de milho no friso inferior e tabelas octogonais entrançadas e divididas, ambos os estilos do Século XVII.

A capela batismal é de planta quadrada e de paredes brancas, tendo o teto cupular de meia laranja, apoiada em trompas de conchas populistas, iluminada por lanterna discoíse. Arco redondo, revestido a cerâmica do mesmo tipo que a nave. A pia batismal é marmórea, cilíndrica, sem esculturas, sobre paelha anelada.

Na parede lateral esquerda, sob o coro, subsiste uma lápide de mármore, em caraterísticas góticas, original desde a construção da igreja, com as seguintes inscrições:

ESTA CASA DE NOSA SNRA DA CÕSOLAÇAM MÃNDOU FAZER LUIZ MENDEZ DOLIVEIRA E ISABEL JORGE SUA MOLHER E LHE DEIXARAM HUA QUINTA ONDE ESTA DITA CASA PERA SEPRE LHE DIRAM HUA MISA CADA SABADO POR AS ALMAS DE QUE LHA LEIXOU EASI POLLAS SUAS PER DIA DE NOSA SRA LHE DIRAM HUA MISA CANTADA É CADA HU ANO PA SEPRE E SE PAGARAM AS DITAS MISAS A CUSTA DE RENDA DA DITA QITA E O MAIS-Q SOBEJAR SERA O MINISTRADOR A Q FICARA AMANISTRAÇÃ A QUAL MINISTRAÇÃ LHE FICARA P FALECIMENTO DE NOS AMBOS E NO COPROMISSO Q TEMOS AMBOS FEITO FICARA P FALECIMENTO DE NOS AMBOS E NO QUAL MANISTRADO SERA OBRIGADO A SEPRE TER DITA CASA COREJIDA E REPARADA DE TODO O QUE LHE FOR NECESARIO E NÃ NO CÕPRIDO EU ASI PIDJAMOS AO PROVEDOR DOS RESIDOS EASI A TODALLAS PESOAS A QUE PERTECER Q NOMEN E PONHAM OUTRO MANISTRADOR Q HO HI FACA E CUPRA O Q DITE HE F.TO NO ANO DE 1528 ANOS

IGREJA 018

O púlpito é de base arredondada e recoberto de painéis de talha dourada, com aplicações envieiradas, estilo rococó em voga no Século XVIII.

As duas capelas laterais são profundas e de secção quadrangular e situam-se junto do arco triunfal do altar.

A capela do lado do Evangelho é dedicado às almas e tem cobertura de artesões boleados, de alvenaria ao estilo da origem do templo, no reinado de D. João III,  composta por pinturas parietais, ornamentadas depois, em 1724, por ordem do lavrador Manuel Rodrigues. Estão representadas: Adão e Eva no Paraíso, a Santíssima Trindade e As Almas do Purgatório.

O altar é totalmente preenchido por um retábulo composto por colunata de ordem coríntia e estamblamento clássico moldurando vistoso quadro a óleo que representa S. Miguel e as Almas, com características do final do Século XVII. Na linha da banqueta existe um núcleo devocional de santos, todos a meio corpo, estilo maneirista, criados, segundo se supõe, por artesãos eborenses anónimos: São João, São Mateus, São Paulo, São Lázaro, Santa Marta, São Pedro, São Lucas e São Marcos.

Na mesa do altar venera-se o Senhor Morto, escultura típica do barroco filipino.

A capela contrária é dedicada a Nossa Senhora do Rosário, sendo fechada por grades de madeira dourada e pintura e de balaústres torneados com elementos decorativos da Eucaristia e a Santa partícula de opulento resplendor, servindo originalmente de altar ao Santo Sacramento. Este trabalho pode incluir-se no trabalho de Joaquim do Carmo e José Gomes, obra originalmente executada no Século XIX na Igreja Conventual de São Francisco de Arraiolos, hoje Igreja Matriz.

O interior desta capela é de características quinhentistas, com teto ogivado, de toros arredondados, cobertos de frescos barrocos, que representam O Casamento da Virgem, A Circuncisão, A Virgem com o Rosário e São Domingos e Santa Catarina de Sena. Arco com símbolos místicos e safenas, enquadrado na época de D. João V, embora tenha também caraterísticas rococó, principalmente na decoração com azulejos e no retábulo interior lavrado a talha dourada.

IGREJA 048  IGREJA 056

O altar central é amplo e está pintado com efeito mármore azulado e avermelhando, tendo características iluministas neoclássicas, principalmente pela balaustrada guarnecida de albarradas e pequenos detalhes de talha dourada.

No nicho central, inicialmente estava Nossa Senhora da Consolação, padroeira do templo, agora substituída por um crucifixo, alteração feita no final do Século passado, tendo a imagem da virgem passado para a lateral direita, com o Menino Jesus aos pés. Destacam-se ainda as opulentas coroas de prata branca que rematam ambas as imagens.

Nas edículas laterais podem ser vistas duas esculturas barrocas, de feição seiscentista: São José com o Menino e Santo António. Ambas as imagens são de madeira dourada e estofada.

No altar principal pode encontrar-se ainda o trono do pároco, da época de D. Maria I, com abóbada de barrete e decorado com vieiras, lambrequins, florões e cartelas, símbolos de São Pedro e São Paulo.

Destaca-se o fato de, no chão da capela principal, estarem sepultados os fundadores do templo Luís Mendes de Oliveira e Isabel Jorge, com o epitáfio:

AQUI JAZ LUIZ MENDES DE OLIVEIRA E A SUA MULHER QUE FOI SEPULTADA NA CAPELA DE NOSSA SENHORA.

Esta inscrição não é visível, uma vez que desde o final do Século XIX que se encontra debaixo do soalho ali instalado na altura.

Na abobadilha pode ver-se um escudo de armas esquartelado e de interpretação considerada por muitos historiadores como confusa, uma vez que contém as insígnias dos Limas, Mexias, Severim e Van Zeller.

Fonte: Inventário Artístico do Distrito de Évora, Túlio Espanca, 1975

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